A transformação de percepção é chave para o processo terapêutico

Certamente você já julgou alguém que se comportou de forma inadequada alguma vez em sua vida, certo? Para você eu tenho duas questões:

  1. O que despertou esse comportamento nesse sujeito?
  2. Esse sujeito pode mudar esse comportamento?

As respostas rápidas são: 1. Comportamentos são invocados por emoções e 2. Não. Comportamentos não são mudados depois de modelados.

Para conseguir compreender esse fenômeno, temos que compreender um conceito importante do Compotamentalismo que é a aquisição de um comportamento por meio da modelação. Caso queira saber mais sobre a modelação de um comportamento sob a luz da Teoria Social Cognitiva de Albert Bandura, clique aqui.

Sabendo que cada indivíduo possui uma biblioteca única de comportamentos, devemos então compreender o caminho pelo qual sua mente percorre até chegar em um comportamento.

De uma forma simples e resumida, existem quatro passos importantes para o disparo de um comportamento, veja:

Vou dar um exemplo para ilustrar o caminho do comportamento.

“Eu sinto cheito de chuva. Isso me desperta uma memória de meu pai, sentado comigo na varanda um sítio. Ele fumava um cigarro e olhava a vastidão das árvores a sua frente sem dizer uma palavra. A lembrança dessa memória me deperta paz, tranquilidade.”

Nesse relato, a sensação captada pelo olfato (cheiro da chuva) desperta uma percepção sobre a chuva associada com uma memória de meu pai. Essa percepção mobiliza uma emoção, que é a alegria e a alegria irá disparar um comportamento. Muito provavelmente esse sujeito se acomodará em algum lugar para ver a chuva cair. Essa probabilidade de manifestação de comportamento é chamada de fator de previsibilidade.

Vou mudar algumas das variáveis do modelo acima e gostaria que você tentasse responder 1. qual emoção foi mobililzada e 2. qual será o comportamento que esse sujeito tomará?

“Eu sinto cheiro de chuva. Isso me desperta a memória de minha mãe que morreu em uma enchente.”

Pensando nas emoções básicas: raiva; alegria; tristeza; medo; surpresa e nojo, quais são mobilizados pelo sujeito nesse segundo exemplo? 

Provavelmente medo e tristeza. Essa combinação de emoções provavelmente fará com que o sujeito recorra a sua biblioteca de comportamentos e escolha um que o proteja da chuva. Portanto, nesse caso, provavelmente o sujeito se esconderia em algum lugar para se proteger da chuva. 

Supondo que esse comportamento seja um comportamento disfuncional e faça com que o sujeito tenha algum prejuízo, qual dos elementos da cadeia poderá ser alterado? Sensação, percepção, emoção ou comportamento?

Nessa cadeia, o único elemento que pode ser mudado é a percepção. Levar o sujeito a compreender a chuva de uma forma menos catastrófica e necessária para a sobrevivência pode atenuar a mobilização das emoções negativas o que levará ele a escolher outro comportamento, o qual chamamos de comportamento adaptativo.

O comportamento disfuncional, que é o de se desesperar e se esconder da chuva continuará lá e talvez não seja mais acessado, mas se por acaso um dia a chuva apertar, pode ser que esse sujeito recorra novamente a esse comportamento, tendo “uma recaída” ao comportamento disfuncional.

É por isso então que o trabalho com a percepção dos fenômenos é tão importante durante o processo de psicoterapia.

Vamos imaginar que em uma determinada conversa você comece a sentir raiva de alguém. A raiva provavelmente irá chamar comportamentos agressivos ou passivo-agreasivos. O trabalho então é entender porque você sentiu a raiva. Ao trazer à luz da consciência a percepção entre a sensação e a emoção mobilizada poderá permitir que você altere a percepção e mobilize novas emoções, possibilitando a manifestação de comportamentos adaptativos.

Gostaria de propor uma atividade para que você consiga compreender a mudança de percepção:

A próxima vez que sentir-se mal por algum evento, gente entender:

  • Qual sensação motivou a percepção;
  • Qual emoção foi mobilizada;
  • Qual foi seu comportamento.

A partir disso, comece a pensar em estratégias e questionamentos sobre suas percepções e tente encontrar novas perspectivas. Com isso tente entender qual emoção foi mobilizada para tentar de alguma forma reduzir a magnitude que você a sente. 

Espero que esses passos ajudem você a encontrar alívio. 

Rodrigo Orellana - Doctoralia.com.br